quarta-feira, 23 de abril de 2008

Quando o mal triunfa



Achei interessante falar sobre isso pois no momento atual estamos impregnados de dúvidas, medo e estupefatos diante das notícias chocantes que nos invadem, digo particularmente da menina Isabela, cuja morte sensibilizou o Brasil. O assunto é tão dilacerante que o melhor seria nem comentá-lo, mas há momentos em que não dá. Então temos que nos aproximar da realidade, de modo crítico e reflexivo.
Lembro-me de ter visto na TV uma entrevista de um neurologista dizendo que, se o cérebro humano tem mil partes, a ciência não conseguia conhecer inteiramente nenhuma delas. Pois é, se a mente humana tem mil caminhos, nós temos que começar a desbravar um. Voltar ao ponto de partida e identificar o que há de real ou fantasioso, consciente ou inconsciente nas nossas memórias, vivência e experiências de vida. O alarde que se dá ao papel dos pais biológicos ou postiços explica o grande destaque deste caso. Não gosto da palavra madrasta, pois em muitos casos elas são as boadrastas (inclusive a minha). Mas este caso põe em xeque a única certeza que se tem da psique humana: a idéia sagrada que temos do pai e da mãe como ligados ao mito da proteção, da vida e, principalmente, da sobrevivência.
Então, vamos convir que, pelo que tudo indica, a grande possibilidade do crime ter sido cometido pelos protetores nos abala em nossa crença e necessidade de proteção. Mas que existem DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO* que levam alguns a cometer insanidades, nenhum de nós duvida.

Nesse caso, em particular, é interessante como percebemos muito mais pessoas desejando ardentemente que os cuidadores não sejam os assassinos do que pessoas simplesmente lamentando o ocorrido.

Há pouco tempo, tivemos a notícia de um triste e infeliz pai que, por conta do estresse, esqueceu o seu bebê dentro do carro e, no calor que fazia na época, resultou na morte do filho por desidratação.
Naquele dia, todos nós ficamos com medo e ansiosos, pois a certeza que temos que pais são responsáveis pelos seus rebentos também é uma crença saudável e de estrutura da nossa personalidade. Infelizmente, outro caso é da moça que, por causas aparentemente desconhecidas, maltratava e acorrentava crianças sob o pretexto de educá-las. Descobriu-se logo que a mulher em questão tinha sido uma criança abandonada e desprovida desse senso de proteção. Sem a intenção de absolvê-la do ato hediondo, uma das poucas certezas em relação a abuso e maltrato infantil é que crianças abusadas ou violentadas podem se tornar adultos cruéis em relação às crianças. Pois em algum momento desse abuso uma cisão se forma e, nessa fresta alucinada, o comportamento anormal se solidifica.

Pois uma coisa digo com certeza: nenhuma tragédia acontece de repente, sempre tem um aspecto de crõnica anunciada, seja pelo tipo de relacionamento ou por situações precedentes. Basta apenas que tenhamos um olhar mais criterioso com nossos sentimentos e com as situações vividas e percebidas, não como pessoas desconfiadas e assustadas com o mundo surpreendente que nos cerca, mas, para que não percamos de vez mais um aspecto altamente consistente para a nossa vida que é a esperança.
Aliás, coitadinha da esperança... está tão abalada. Mas não pode ser destruida, pois dela dependemos para criar, brincar e viver.

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